quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Tânia Terezinha da Silva, Prefeita

A cidade de Dois Irmãos, no Rio Grande do Sul, município no qual predominam pessoas brancas de ascendência alemã, elegeu Tânia Terezinha da Silva, técnica de enfermagem, como sua prefeita.
Foto: O diário.
O que considero essencial nesta conquista não é o fato isolado de que uma mulher negra foi eleita prefeita, mas, isso sim, que seus eleitores sejam majoritarimente brancos: essa, no meu entendimento, é a grande e fundamental diferença.
Ocupar espaços de poder é essencial para pessoas negras em uma sociedade racista, que não se restringe a um estado, mas abrange todo o Brasil. Porém, ocupá-los a partir do reconhecimento de uma comunidade etnicorracialmente diversa da pessoa eleita é um indício de amadurecimento para a diversidade humana. Fico muito feliz por testemunhar que o povo de Dois Irmãos, uma pequena cidade de interior, reconhece o valor de uma de suas cidadãs independentemente (ou pelo menos não tão dependentemente) de sua cor/raça.
Tal comportamento de massa, organizado por meio do processo eletivo, engrandece Dois Irmãos, projeta-a nacional e internacionalmente, porque a valorização da diversidade é cada vez mais um elemento central na constituição do mundo contemporâneo.
Que esta vitória sirva como mais um exemplo para pequenas/grandes mudanças na forma de se tratar pessoas negras, das seleções de emprego mais simples, passando pelas complexas seleções para professores universitários e chegando às indicações para Ministros do Governo Federal (que pessoas negras sejam reconhecidas em sua capacidade para exercerem quaisquer cargos).
Renovo minhas esperanças no futuro deste país, mas ainda há muito a se lutar pela igualdade racial de fato no Brasil.
Parabéns a Tânia e, principalmente, a Dois Irmãos!
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Cidade gaúcha de colonização alemã elege a única prefeita negra do Estado
FOLHA DE SÃO PAULO
RODOLFO LUCENA
DE SÃO PAULO
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/1182122-cidade-gaucha-de-colonizacao-alema-elege-a-unica-prefeita-negra-do-estado.shtml
Mulher, negra e divorciada. Essa é Tânia Terezinha da Silva, primeira prefeita eleita em Dois Irmãos, cidade gaúcha de colonização alemã onde 91,57% da população é branca e os negros são menos de 2% --segundo o Censo de 2010, havia só 414 pessoas de cor ou raça negra entre os 27.572 residentes na cidade.
"O sol brilha para todos, e eu escolhi ficar no brilho do sol, não ficar na sombra", diz ela, que é filiada ao PMDB desde 1995 e foi candidata pela coligação composta ainda pelo PP e pelo PTB. "Foi uma campanha dura, não foi fácil", afirmou à Folha.
"Tive de romper paradigmas. A cor da pele foi um: por ser uma cidade germânica, talvez quem não more lá dificilmente acreditaria que tivesse uma pessoa de cor negra candidata a prefeita. Também a situação de família, pois para quem é católico ou evangélico pesa muito essa questão de família."
Mesmo assim, diz: "Não posso falar da cidade de Dois Irmãos como preconceituosa. Ela acreditou no meu trabalho enquanto pessoa, independentemente da cor".
Ela venceu na política local apesar de ser uma "estrangeira". Nascida em Novo Hamburgo (RS), começou a trabalhar em Dois Irmãos em 1991, depois de passar em primeiro lugar em um concurso de técnica em enfermagem.
Acabou se mudando para lá três anos depois: "Quando cheguei a Dois Irmãos o município tinha cerca de 9.000 habitantes. Quando chega alguém todo mundo olha desconfiado porque não sabe quem é a pessoa. Mas isso por ser uma cidade pequena."
Como técnica em enfermagem, atuou no SUS, visitava os bairros, conhecia cada comunidade. A carreira política começou com a eleição a vereadora em 1996. "Hoje estou na minha terceira legislatura. Em 2008 fui a mais votada, com 2.055 votos numa comunidade de 16 mil eleitores." Agora os votos se multiplicaram: única negra entre as 35 prefeitas eleitas no Rio Grande do Sul, que tem 497 municípios, Tânia recebeu 9.450 votos (51,67%).
Aos 49 anos, a prefeita eleita tem um casal de filhos ""Pablo, 24, e Hohana, 20-- e não descuida da aparência: hoje exibe os cabelos trançados em vistosos dreadlocks. "Já tive cabelo curto, encaracolado, agora faz dois anos que eu uso tranças. Para fazer dá trabalho. Em compensação, para manter, é maravilhoso".
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